quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A comunidade de Qumrã

   
Cavernas onde foram encontrados os sete primeiros
 manuscritos por pastores beduínos em  1947.
Em 1947 um jovem pastor beduíno de nome Muhamed e-Drib (o lobo) descobriu por acaso no deserto de Judá a oeste do Mar Morto, manuscritos escondidos dentro de talhas de barro em uma caverna. Posteriormente as pesquisa arqueológicas, revelaram uma colônia formada por judeus, que viveram em Qirbet Qumran desde a metade do ano 200 a.C. até 68 d.C..
Foram encontrados 25.000 fragmentos de textos dos mais variados tamanhos, desde rolos completos do livro de Isaias com 7,3 metros de comprimento, até fragmentos do tamanho de um selo, além de 215 manuscritos de todo Antigo testamento bem como 670 textos da comunidade. Foi constatado que o texto presente nos manuscritos veterotestamentário era mil anos mais antigo do que os textos massoréticos mais antigos de até então.
Através das escavações e dos manuscritos a origem e costumes da comunidade foram trazidos a tona. A comunidade de Qumrã surge a partir dos círculos sacerdotais de Jerusalém, os quais preservam uma estrita observância da lei. A comunidade sacerdotal, no entanto, cria na vitória a ser conquistada no final dos tempos contra os filhos das trevas, proporcionando à comunidade restauração do culto legítimo, simbolizando um tempo de salvação[1]. A comunidade mantinha-se sob uma fidelidade inabalável das interpretações da lei de Moisés, realizadas pelo Mestre da Justiça, que foi o sacerdote-fundador da comunidade. Homem dotado por Deus do dom do conhecimento e da interpretação das escrituras. O Mestre da Justiça era qualificado pelo Espírito Santo no propósito de conduzir as pessoas ao arrependimento, realizando sobre o povo um papel sacerdotal, guiando-os na lei da pureza[2] (SHANKS, 1993, p. 220).
Através dos manuscritos do Mar Morto, sabe-se que os essênios de Qumran eram rigorosos nas realizações de seus rituais, como por exemplo: tomavam “banhos rituais regulares”, na esperança de estarem conservando sua pureza, fator essencial para o encontro com o Senhor; outro exemplo era a realização regular de um “banquete messiânico”, pois criam que, por meio deste ritual, iniciar-se-ia a celebração da salvação de seu povo, onde estariam presentes neste ato os ungidos capazes de concebê-la[3].
Entre os escritos de Qumrã todos os livros do Antigo Testamento foram encontrados com exceção do livro de Ester, pois este era usado para comemorar a festa do Purim, festividade que a comunidade não aceitava como legítima.
Entre os textos escritos pela própria comunidade as temáticas são bastante variadas existiam:
          I.   Regras da comunidade – composta de regras com penas às infrações cometidas, além de determinações litúrgicas para a comunidade como a festa da renovação de aliança.
         II.   Cantos de Louvor – salmos veterotestamentarios provavelmente escritos pelo Mestre da Justiça.
        III.   Rolo de Guerra – relata a luta entre os filhos da luz liderados por Miguel, e os filhos das trevas liderados por Belial.
       IV.   Rolo do Templo – eram determinações da lei (prescrições de pureza), na qual os sacerdotes executava  com base na autoridade de Moisés.
        V.   Comentário de Habacuque – um comentário do livro de Habacuque interpretado pelo Mestre da Justiça.
       VI.   Apócrifo de Gênesis – dispõe livremente do texto de Gênesis, para fraseando-o em aramaico, aperfeiçoando-o e aumentando-o.
     VII.   Rolo de Salmos – composto de 41 salmos bíblicos e 7 não bíblicos, além de um texto em prosa sobre a poesia dos salmos de Davi.
    VIII.   Rolo de Cobre – contem uma lista de tesouros bem como o local onde estariam enterrados. As quantidades são tão grandes- 200 toneladas de ouro e prata- que acredita-se tratar de tesouros sacerdotais conforme imaginação e fantasia do povo sobre as riquezas de Israel.
   
Algumas semelhanças entre os escritos da comunidade de Qumrã e os escritos do novo Testamento são encontrados, por exemplo é o dualismo luz/trevas presente principalmente no evangelho e nas epístolas de João. Outro exemplo é o modo como tanto os textos do Novo Testamento e os rolos utilizam as escrituras judaicas para justificar suas crenças. Outro dado a se considerar é que tanto na maior parte dos rolos como no Novo Testamento, encontra-se uma crença num Deus intimamente envolvido com os assuntos humanos.
Além disso, a doutrina dos Dois Espíritos encontrada tanto no Manual de Disciplina como em algumas passagens do Novo Testamento. De acordo com o Manual de Disciplina, as almas humanas são guiadas por dois seres espirituais ou anjos: o espírito da luz tenta guiar a humanidade pelos caminhos da equidade e é quem governa sobre todos os indivíduos justos, já o Espírito das Trevas, influencia as pessoas a agirem iniquamente e tem total domínio sobre os iníquos. Este papel no Novo Testamento é muitas vezes atribuído ao diabo.
O Manual de Disciplina apresenta a figura de um indivíduo virtuoso que poderia redimir os pecados do outro através do seu próprio sofrimento. Percebe-se que tanto o Manual de Disciplina; como o Novo Testamento; tiram dos escritos de Isaias (Is 52 e 53) a imagem do servo sofredor.
Foi encontrado na Caverna 4 um rolo batizado de: “O Messias Perfurado”, neste escrito uma figura messiânica, geralmente identificada como o; Príncipe da Congregação, aparece agindo como salvador. Seu papel era liderar as tropas de Israel na batalha contra as nações e recuperar a glória nacional de Israel. Um papel mais ou menos semelhante é atribuído a Jesus no Novo Testamento - em sua segunda vinda(Mateus 24, Apoc. 9).


Reconstrução em 3D – Qumrã virtual






[1] LOHSE, Eduard. Contexto e ambiente do novo testamento. São Paulo: Paulinas, 2000, pp.81-83
[2] SHANKS, Hershel (org.). Laura Rumchisnky (trad.). Para compreender os manuscritos do Mar Morto: uma coletânea de ensaios da Biblical Archaeology Review. Rio de Janeiro: Imago, 1993. p.200.
[3] HORSLEY, Richard, A.; HANSON, John, S. Bandidos, profetas e messias: movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995, p.40.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Flávio Josefo

Ele vem do judaísmo a palestina, depois vai viver na Diáspora. Através de seus livros ele tenta apresentar a seus leitores helenísticos uma justificação do judaísmo, propagandeando a fé de Israel. Suas exposições sobre o judaísmo contemporâneo podem ser consideradas uma expressão das idéias e pensamentos difundidos nos círculos sinagogais.
Em sua auto-biografia ele declara que nasceu em 37 d.C, que é filho de sacerdote em Jerusalém. Chegou a conhecer o grupo dos fariseus, dos saduceus, e dos essênios, pertencendo a cada um deles por um determinado tempo.   O grande objetivo de Josefo é despertar a compreensão dos leitores não judeus para o judaísmo,apontando-o como forma de vida racional. Ele procurava explicar a fé dos judeus de modo a não levantar suspeitas nas instituições romanas, isso o impedia de falar do messias. Por isso, em vez da esperança dirigida ao futuro de Israel, colocava-se uma expectativa, importando unicamente o destino vindouro da pessoa particular e sua alma imortal.  

Filo de Alexandria

Filo de Alexandria, cerca de 20 a.C. – 50 d.C., lê a Escritura alegoricamente. Sua interpretação associa à Escritura significados previamente não conectados com ela: Filo, primeiro, reduz a sabedoria clássica a uma forma conceitual anônima; segundo, ao ler a Escritura alegoricamente, apresenta aquela sabedoria como a verdade subjacente ao sentido da Escritura. Moisés tem prioridade sobre os autores clássicos, tornando-se o filósofo original. A Escritura torna-se, assim, uma “re-escritura” de significados clássicos, uma “re-escritura” que é, paradoxalmente, vista como escrito original. A leitura alegórica de Filo é usada para reinterpretar o cosmos, a história, a sabedoria filosófica clássica e a realidade social de Alexandria; ela não procurava dissolver a identidade judaica na cultura helenística, mas era central para a identidade e sobrevivência da comunidade judaica em meio a um contexto hostil.


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Apocalíptica



O verbo grego kalýpto significa "cobrir", "esconder", "ocultar", "velar". Neste sentido ele é usado, por exemplo, em Lc 23,30 ou 2Cor 4,3. Aqui, Paulo diz: "Por conseguinte, se o nosso evangelho permanece velado (kekalymménon) está velado kekalymménon) para aqueles que se perdem...".
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Na Septuaginta, kalypto é usado no mesmo sentido em Ex 24,15;27,2; Nm 9,15; 1Rs 19,13 e em muitos outros lugares. Ex 24,14 diz: "Depois, Moisés e Josué subiram à montanha. A nuvem cobriu (ekálypsen) a montanha". Nm 9,15 diz: "No dia em que foi levantada a Habitação, a Nuvem cobriu (ekálypsen) a Habitação, ou seja, a Tenda da Reunião...". O verbo hebraico assim traduzido é khâsah, "cobrir", "ocultar"
A preposição grega apó indica um movimento de afastamento ou retirada de algo que está na parte externa de um objeto. Assim é usada em Mt 5,29: "Caso o teu olho direito te leve a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti (apó sou)".
Deste verbo deriva o substantivo feminino grego apokálypsis, "revelação", "apocalipse". Em Gl 2,2 Paulo diz a propósito de sua ida a Jerusalém: "Subi em virtude de uma revelação (apokálypsin)...". E o livro do Apocalipse começa assim: "Revelação (apokálypsis) de Jesus Cristo...".
De "apocalipse" deriva "apocalíptica" e é exatamente com esse nome que designamos uma corrente de pensamento e uma literatura surgidas em Israel entre os anos 200 a.C. e 100 d.C., mais ou menos.
Poderíamos dizer que há, assim, três fases marcantes na história da apocalíptica:
·       a época da guerra dos Macabeus contra Antíoco IV Epífanes e o partido helenizante, no séc. II a.C.
·       a partir do domínio romano, que se inicia com Pompeu em 63 a.C.
·       durante as guerras judaicas contra os romanos em 66-73 d.C. e 131-135 d.C.
Deste modo, a literatura apocalíptica funciona como uma literatura de resistência: através da escrita, Israel se manifesta vivo e atuante. Os céus estão fechados? A história, porém, é ainda possível: através do livro, manifesta-se o Espírito, que garante a identidade do povo de Israel.
Provavelmente a mais antiga obra da apocalíptica judaica, o livro de Daniel é uma peça literária de resistência escrita na época da luta dos Macabeus contra a helenização no século II a.C.
Daniel não é o autor do livro. Estamos frente a um texto apocalíptico, escrito em 164 a.C., cujo autor se esconde por trás de um pseudônimo. Daniel talvez jamais tenha existido, embora haja pistas de um certo Danel em Ez 14,14.20;28,3 e um Dnil que aparece no poema de Aqhat encontrado em Ugarit, e que podem ter inspirado o legendário personagem bíblico.
Ez 14,14.20 cita Danel ao lado de Noé e Jó: três homens justos, três heróis populares. Eles são lembrados aqui para dizer que nem estes três justos conseguiriam salvar do castigo uma sociedade que abandonasse Iahweh. Ez 28,3 qualifica-o como sábio, em um oráculo contra o rei de Tiro, quando diz: "Certo, és mais sábio do que Danel, nenhum sábio há que se iguale a ti".
Entretanto, o sábio Daniel (= Deus julga), um jovem judeu de Jerusalém, é o protagonista desta narrativa que estrategicamente é situada na época dos reis babilônicos e persas, no tempo do exílio.
No capítulo 1 o texto conta como, após a deportação dos judeus de Jerusalém para a Babilônia, alguns jovens judeus de famílias nobres são escolhidos e educados durante três anos para, em seguida, servirem ao rei. Entre eles - terão os nomes trocados - estão Daniel (Baltassar), Ananias (Sidrac), Misael (Misac) e Azarias (Abdênego). Só que a descrição do período babilônico feita pelo livro é imprecisa e seu conhecimento das cortes babilônica e persa superficiais.
Não houve, como o livro afirma, uma deportação em 605 a.C.; Baltasar é filho de Nabônides e não de Nabucodonosor; Dario, que é persa e não medo, é um dos sucessores de Ciro e não seu predecessor... Além do que, a doutrina sobre os anjos, o costume de evitar o nome de Iahweh e outros elementos não são daquele tempo, o exílico, mas bem posteriores.
Enfim, uma série de dados que acabam mostrando que a finalidade do livro e seu gênero literário não são históricos. É um escrito da resistência judaica, no duro período da perseguição selêucida. Daniel quer mostrar que, apesar de tudo, é preciso ter uma fé inabalável em Iahweh, porque mais cedo ou mais tarde os judeus sairão vitoriosos e engrandecidos.

Os israelitas sempre haviam considerado fundamental para a comunicação com Iahweh a existência dos profetas. Dt 18,18 diz que a Moisés Iahweh garantira: "Vou suscitar para eles um profeta como tu, do meio dos seus irmãos. Colocarei as minhas palavras em sua boca e ele lhes comunicará tudo o que eu lhes ordenar". Sem Iahweh não existe Israel e sem profecia não se pode saber a vontade de Iahweh.
Ezequiel, falando da crise que se aproxima no confronto com a Babilônia, no século V a.C., já alerta: "Os desastres se sucederão; haverá boato sobre boato. Buscar-se-á uma visão de profeta, mas a lei fará falta ao sacerdote, e o conselho aos anciãos" (Ez 7,26).
O Sl 74,9, lamentando a destruição do Templo de Jerusalém pelos babilônios em 586 a.C., diz: "Já não vemos nossos sinais, não existem mais profetas. E dentre nós ninguém sabe até quando".
Também Lm 2,9, descrevendo o desastre de 586 a.C., diz de Jerusalém:"Por terra derrubou suas portas, destruiu e quebrou seus ferrolhos, seu rei e seus príncipes estão entre os gentios: não há Lei! E seus profetas já não recebem visão de Iahweh".
Já na difícil volta do exílio babilônico, o Sl 77,9-10 joga a seguinte pergunta: "Seu amor esgotou-se para sempre?Terminou a Palavra para gerações de gerações? Deus esqueceu-se de ter piedade ou fechou as entranhas com ira?".
1 Macabeus, obra escrita entre 90 e 70 a.C., e que relata a crise desencadeada, na Judéia, pela helenização forçada, no século II a.C., faz repetidas alusões ao fim da profecia.
Quando, em dezembro de 164 a.C., Judas Macabeu recupera o controle do Templo - que estava nas mãos do partido helenizante - e o purifica, há o problema do altar dos holocaustos que fora profanado e precisa ser demolido. "Demoliram-no, pois, e puseram as pedras no monte da Morada, em lugar conveniente, à espera de que viesse algum profeta e se pronunciasse a esse respeito", diz 1Mc 4,46.
Após a morte de Judas Macabeu, o partido helenizante assume novamente o controle da Judéia, enquanto Jônatas, irmão de Judas e seu sucessor na luta, se refugia no deserto de Técua. 1Mc 9,27 avalia a situação com as seguintes palavras: "Foi esta uma grande tribulação parra Israel, qual não tinha havido desde o dia em que não mais aparecera um profeta no meio deles".
Alguns anos mais tarde, quando o rei selêucida Demétrio confirma o macabeu Simão no sumo sacerdócio, diz 1Mc 14,41 que "os judeus e seus sacerdotes haviam achado por bem que Simão fosse o seu chefe e sumo sacerdote para sempre, até que surgisse um profeta fiel".

sábado, 9 de outubro de 2010

Grupos e Comunidades no Judaísmo Palestino:






Os Saduceus
 
A designação dos saduceus está ligada ao nome de Sadoc ou Zadoque, nomeado sumo sacerdote pelo rei Salomão (1 Reis 2.35). Os sacerdotes do templo o consideravam seu antepassado e, portanto, eram descendentes dele. No projeto do futuro de Israel, do país e do santuário, relatado em Ezequiel 40-48 confia-se aos filhos de Sadoc o serviço sacerdotal (Ezequiel 40.46; 43.19; 44;15; 48.11). Mais tarde os “sadoquitas” desempenharam um papel determinante na reconstrução das comunidades pós-exílicas. Como eram os sacerdotes legítimos, exerceram o serviço do templo em Jerusalém.
Nas incursões do rei sírio Antíoco, os sadoquitas encontraram um fim inglório. Jazão, simpatizante dos gregos, usurpou o cargo de sumo sacerdote de seu irmão Onias, promovendo o helenismo. Mas a revolta macabaica deteve a crescente influência da helenização. Mais tarde os asmoneus assumiram o cargo de sumo sacerdote, apesar de não serem de origem sadoquita. Existiam ainda filhos de Sadoc que continuaram seu serviço sacerdotal no templo. Com o tempo, os asmoneus foram desenvolvendo relações com a aristocracia sacerdotal de Jerusalém. Por sua vez essa aristocracia sacerdotal passou a cooperar com o trono. Houve, portanto, uma acomodação. A partir daí, um grupo de sacerdotes observadores da Lei passou a se reunir ao redor do “Mestre da Justiça” - um sacerdote dotado por Deus com o dom do conhecimento profético – formando um grupo que zelava pelo estrito cumprimento das prescrições cultuais da Lei. Mas, esse zelo provocou conflitos com o sumo sacerdote dos asmoneus, fato este que levou esse grupo a se separar do templo de Jerusalém. Esse grupo dissidente construiu uma colônia à margem oeste do Mar Morto, onde formou a comunidade da Aliança sob a direção dos filhos de Sadoc, os sacerdotes que conservam a Aliança (1 QS V.2,9). Os sacerdotes que continuaram em Jerusalém se distinguiam-se desses sadoquitas, pois continuaram exercendo seus cargos no templo, entendendo-se com os asmoneus. Houve, portanto, uma divisão entre os sadoquitas: um grupo continuou em Jerusalém em acordo com os sumo sacerdotes asmoneus e outro grupo de zelosos cumpridores da Lei retiraram-se formando uma colônia monástica às margens do Mar Morto.
Esse grupo da aristocracia sacerdotal que permaneceu em Jerusalém deu origem aos saduceus, cujos membros em sua maioria ocupavam altos cargos sacerdotais e pertenciam à famílias importantes de Jerusalém. Nos seus cargos e posições, sentiam-se obrigados a agir com pragmatismo e a avaliar a situação política com realismo, adaptando-se à situação. Estavam dispostos a levar em conta os diversos interesses das facções do poder. Sob o governo de Salomé Alexandra, sua influência diminuiu bastante com a aceitação de escribas e fariseus no Sinédrio. Os saduceus ainda eram maioria, mas ponderavam as opiniões dos fariseus.
Os saduceus interpretavam a Lei ao pé da letra e não atribuíam à tradição oral, tão prestigiada pelos fariseus, o mesmo valor da palavra escrita. Entre os saduceus havia também alguns escribas dedicados ao estudo e interpretação da Lei. Como eram pragmáticos não acreditavam em ressurreição, anjos e demônios, contrariamente aos fariseus (Atos 23.8). Em Marcos 12.18-27, os saduceus formularam uma pergunta a Jesus sobre a “impossibilidade” da ressurreição.
Os saduceus velavam pela observância do sábado mais rigidamente que os fariseus, não aceitando casuísmos para enfraquecer o mandamento do sábado. Achavam que as sentenças penais deviam obedecer rigorosamente às prescrições da Lei. Assim, a pena de morte, sentenciada por tribunal judaico, deveria ser por apedrejamento.
Sob o governo dos asmoneus, os saduceus mostraram prudência e habilidade política. Essas aptidões lhe permitiram, também, no tempo de Herodes e dos procuradores romanos a obtenção de cargos importantes em Jerusalém, quando a escolha dos sumo sacerdotes, por estes governantes, provinha sempre do seu grupo. Eles reconheciam os governos e procuravam conter a crescente inimizade do povo contra os romanos. Eram adversários dos zelotes - incentivadores da resistência ativa - e, também, dos fariseus - contrários aos chefes políticos pagãos. No fundo os saduceus tinham poder e influência limitados. Eles tentaram impedir, sem sucesso, a revolta dos judeus contra os romanos que culminou com a destruição do templo e a queda de Jerusalém nos anos 70 d. C., quando ocorreu a morte e o fim dos saduceus.
Os Fariseus

  O início do movimento farisaico remonta ao tempo dos macabeus quando os judeus julgaram que era necessário lutar para defender a fé judaica contra a alienação helenística. Em 1 Macabeus 2.42, na Bíblia Católica, menciona-se uma reunião de israelitas fortes, corajosos e fiéis à Lei, os hassideus. Desses círculos, um grupo que se afastava do ambiente social, a fim de evitar o contato com toda a impureza, formaram a “Comunidade Santa de Deus”. Daí nasceram os fariseus. Eram um grupo de judeus, fiéis à Lei e sem objetivos políticos, mas somente impulsionados pelo zelo no cumprimento da Lei (1 Macabeus 7.13).
Após a restauração do culto ordinário e da vida conforme a Lei em Jerusalém, os fariseus afastaram-se dos asmoneus que desenvolviam uma política imperialista. A partir daí os fariseus desistiram de uma mudança política pela violência para, através de uma vida piedosa de jejum e oração, esperar uma futura transformação operada por Deus. Por isso, mais tarde, não colaboraram com os zelotes, quando estes se preparavam para uma revolta contra a ocupação romana.
Os fariseus formavam comunidades estáveis, nas quais era possível seguir rigorosamente as prescrições da Lei. A observância escrupulosa das prescrições do sábado, da purificação cultual e do dízimo tornou-se um dever essencial para todos os fariseus (Mateus 23.23). Para se purificar das impurezas eles se lavavam e aspergiam freqüentemente (Marcos 7.3,4; Lucas 11.38,42). Além disso, faziam jejum duas vezes por semana para orar pela salvação de Israel. Portanto, o fariseu da parábola não se vangloria, mas apenas menciona o que de fato faz (Lucas 18.12).
As comunidades farisaicas compunham-se de alguns sacerdotes, mas principalmente de leigos, artesãos e comerciantes, residentes na cidade e no campo, na Judéia e na Galiléia. Reuniam-se para as refeições comunitárias, onde podiam observar melhor os mandamentos da pureza (Cf Lucas 7.36; 11.37). Embora o número total de fariseus (mais de seis mil), fosse pouco expressivo em relação ao contingente geral dos judeus, sua influência era grande, devido, principalmente, aos escribas que dirigiam as comunidades farisaicas que estudavam a Lei de Moisés e discutiam a sua interpretação, desfrutando de grande prestígio entre o povo. Veneravam os túmulos dos profetas e cuidavam dos monumentos dos justos (Mateus 23.29). Os fariseus se afastavam das pessoas ignorantes da Lei e das que não a observavam, evitando relações com elas (João 7.49). Guardavam distância sobretudo dos publicanos e pecadores e considerava escandaloso que um judeu se sentasse à mesa com eles (Marcos 2.15,16; Lucas 15.2).
A pregação e as ações de Jesus encontraram a firme rejeição dos fariseus. Eles indagavam: Como poderia Jesus manter comunhão com publicanos e pecadores? (Lucas 7.39; 15.2). Porque infringia as prescrições do sábado? (Marcos 2.24; 3.2). E descuidar do mandamento da pureza? (Marcos 7.2,5). E não jejuava? (Lucas 5.33). Jesus acusa os fariseus de serem hipócritas, porque consideram o seguimento exterior da Lei (Mateus 23.23-26; Lucas 11.39-43 parte), mas não conhecem a pureza do coração. Mesmo que paguem religiosamente o dízimo, esquecem o amor de Deus e o Seu perdão para os que se arrependerem. Em virtude de sua vida piedosa, os fariseus mostravam-se muito autoconfiantes, desprezavam os perdidos e achavam que podiam reivindicar perante Deus a declaração de justos (Lucas 18.9).
No decurso da atuação pública de Jesus, houve freqüentes conflitos com os fariseus sobre o modo de entender as palavras da Lei e sua obrigatoriedade. Visto que Jesus contradizia firmemente a prática da Lei defendida pelos fariseus, eles decidiram condená-lo como infrator da Lei (Marcos 2.6,7; 3.6). E para isso tentavam conseguir alguma prova contra Ele (Marcos 12.13-17 parte).
Até a destruição de Jerusalém em 70 d.C. os fariseus possuíam uma importante influência no Sinédrio (Atos 5.34-40; 23.6-8). Quando cresceu o ódio do povo contra a dominação dos romanos, a ponto de levá-los novamente à revolta armada, os fariseus não mais conseguiram impedir o desastre. Muitos se juntaram aos insurrectos e morreram na guerra. Outros se contiveram e sobreviveram à catástrofe. Por isso o movimento farisaico conseguiu influenciar decididamente o caráter espiritual das sinagogas após 70 d.C. levando a sua doutrina ao reconhecimento geral dos judeus.
Os Zelotes
  
Quando o rei judeu Arquelau foi deposto no ano 6 d. C. os próprios romanos assumiram o governo da Judéia e ordenaram um censo de toda a população para poder elevar os impostos de acordo com o total de habitantes encontrado. Tal medida provocou indignação em alguns círculos judaicos, particularmente entre um certo grupo de fariseus que terminou se separando da comunidade farisaica, contrária à ação política específica, e passaram a recusar obediência aos romanos, por causa do seu zelo pela Lei. Esses “zelosos” (em grego zelotas) continuaram concordando com todas as opiniões doutrinárias dos fariseus, mas entendiam que quem reconhecia e pagava impostos ao imperador, infringia o primeiro mandamento que manda honrar somente a Deus. E diziam ao povo que pagar impostos aos romanos era sacrilégio e repugnante à Lei de Moisés.
Os zelotes se recusavam a se submeter ao imperador e a pagar-lhe impostos. Não tinham paciência para esperar pela transformação messiânica, mas queriam mudar o curso da história pelo seu próprio agir. Seu fundador foi Judas, o galileu, que no início do primeiro século atraiu o povo atrás de si (Atos 5.37). Além dele apareceram outros que se diziam profetas e levaram seus seguidores para o deserto (Atos 5.36; 21.38). Como não podiam enfrentar o poder militar dos romanos em batalha aberta, se escondiam nas encostas das montanhas judaicas de onde saíam, freqüentemente, para atacar as forças de ocupação, em assaltos. Achavam que a Lei devia ser obedecida, mesmo à custa da espada. Depois ganharam o nome de sicários, em virtude do formato da arma que usavam em seus assaltos, a “sica”.
Aos olhos dos romanos eles eram ladrões e bandidos e contra eles agiam com rigor e dureza. No entanto, entre a população da Palestina, eles encontravam um número crescente de partidários, visto que eram zelosos para com a Lei. Atiçavam a inimizade contra os pagãos e constantemente incentivavam sublevações contra os romanos. Barrabás, cujo nome significa “filho de rabi” e que é mencionado na Bíblia como: “preso com amotinadores, os quais em um tumulto, haviam cometido homicídio” (Marcos 15.7); “no cárcere por causa de uma sedição na cidade, e também por homicídio” (Lucas 23.19); e “salteador” (João 18.40), teria sido um dos líderes dos zelotes.
Havia entre os discípulos de Jesus, um antigo partidário dos zelotes conhecido por Simão, o zelote (Lucas 6.15; Atos 1.3). A pregação de Jesus se distinguia claramente das pretensões dos zelotes. O reino de Deus vem, sem o concurso da atividade humana, apenas pela ação de Deus (Marcos 4.26-29). Quando perguntado se era correto pagar impostos a César, Jesus não respondeu como os zelotes, mas disse que se devia “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Lucas 20.25). Assim, Jesus não aprovou a pretensão dos zelotes de mudar a situação pela violência, forçando a vinda do Reino de Deus.
Finalmente, os zelotes foram a força motriz da guerra judaica, quando os romanos reagiram violentamente, saqueando Jerusalém e destruindo o templo, no ano 70, conforme fora profetizado por Jesus (Lucas 21.20-24). Com a destruição de Jerusalém e a posterior extinção dos grupos de resistência, que fugiram para o deserto, os zelotes encontraram um fim funesto.

BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. II séries. S. Paulo. Editora Paulinas, 2004.
LOHSE, Eduard. Contexto e ambiente do novo testamento. São Paulo: Paulinas, 2000.
 HORSLEY, Richard, A.; HANSON, John, S. Bandidos, profetas e messias: movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Judaísmo na Diáspora

Importante ressaltar que mesmo no período da diáspora, Jerusalém permanecia o centro do judaísmo. Para os Judeus a sua terra era o seu mundo, o seu lugar de adoração ao senhor como vemos no texto de I Sm. 26.19. Porém uma diversidade de razões os levou a mudar para países diversos; tais como dificuldades políticas, guerra, a perseguição religiosa, os conflitos entre os vários grupos da sociedade judaica, uma possível super população na sociedade judaica e uma melhor condição econômica no exterior. Todos estes problemas fizeram com que o judaísmo se espalhasse por todo mediterrâneo: Egito, Síria e na Ásia Menor. Uma grande difusão de regras, em relação a comportamento, família foram estabelicidas. Alguns destas pessoas por causa das guerras foram levados prisioneiras para o exílio Babilônico, outras fugiram para o Egito onde possuíam cidadania e um líder responsável por seus assuntos e em resolver seus conflitos.
 Benedikt Otzen coloca que havia acampamentos militares especificamente judaicos. A população judaica crescia dentro da Pelestina e fora; dentro por causa da conversão dos não-judeus e fora por causa das famílias numerosas e por causa da difusão em outros países. Jsefo relata que não há países em que os judeus chegaram e se estabeleceram que não se tornasse países mais fortes.
A população judaica era maior do que em qualquer outra cidade helenística seu centro agora não era mais somente Jerusalém, havia outro pólo que se tornava forte, segundo Benedikt Otzen eles formavam uma cidade autônoma “uma cidade dentro da cidade”, mas isso não fazia com que eles deixassem Jerusalém, a mesma ainda era seu centro religioso, pois eles visitavam sempre as festas de Jerusalém. Segundo Lohse os judeus do mundo Helenístico deveriam se adaptar a um ambiente diferente isso levou os judeus a aprender com os gregos e a afirmar sua identidade. Todos esses contextos geraram dois belos monumentos desse período, a septuaginta e os extensos trabalhos filosóficos judeus Fílon.
Por volta do séc 30 a.C houve uma transição de governo no Egito, o que causou desconforto para os judeus, pois, isso significava perder sua posição, também crescia os interesses entre os cidadãos da polis grega, o que gerava conflito. Segundo Lohse não era fácil, para os judeus, viver em terras estrangeiras, apesar de influenciar e receber influências religiosas e políticas, os judeus não conseguiam se adaptar com facilidade em terras estrangeiras, pois não deixavam suas praticas religiosas, e isso fez com que o povo pagão se voltasse contra eles, apesar de sua forte influência sobre eles.
Dentro das comunidades eram feitos cultos, nas sinagogas, também filósofos discutiam questões que se referem a vida, isso atraia enumeras pessoas que ficavam do lado de fora, estes eram impedidos de se converter ao judaísmo por causa das exigências, dessa forma eram exigidas dos pagãos somente o segmento das leis principais. Mais tarde este povo que ganha o nome de prosélitos, foram admitidos dentro da religião com mais freqüência, até chegar ao banho por imersão. Dessa forma cresce o judaísmo na diáspora, recebendo influencias não- judaicas.